


Quando minha apurada auto-percepção evoluiu no sentido daquilo que os psicólogos denominam de duplo-vínculo, o meu mestre mais uma vez me chamara a atenção: «Loong, liberta-te percorrendo os caminhos da natureza e não interfiras. A exigência patente no “devo” era, pois, inconsistente com o não-esforço no acto de “relaxar”. Contudo, nesse mesmo instante já algo comigo se estava operando em clara contradição com um tal desígnio. Aprende, acima de tudo, a arte do despojamento." Deixa que a mente, o princípio determinante, produza o contra-movimento sem que nisso interfira qualquer espécie de deliberação. Abandona o ego e segue o movimento do oponente. Naquele tempo, o meu instrutor-chefe da escola de Wing Chun, o Professor Yip Man, aproximava-se, dizendo-me: "Loong, relaxa e acalma a tua mente. E, nisto, assaltava-me um único pensamento: “tenho que o desancar e vencer custe o que custar!”.

Daí que, após alguma troca de golpes e pontapés, toda a minha teoria acerca da harmonia houvesse simplesmente desaparecido. Porém, já quando em combate com um oponente, a minha mente ficava completamente perturbada e fora de si. Parecia simples, embora em sua aplicação prática resultasse extremamente difícil. Tudo isto deve ser realizado com tranquilidade e sem esforço. O ponto essencial deste princípio do Gung Fu é o Tao – a espontaneidade do universo.Īpós quatro anos de treino intensivo na arte do Gung Fu, comecei a sentir e a compreender o princípio da harmonia – a arte de neutralizar os efeitos produzidos pela acção do adversário, minimizando a energia despendida. Tem, qual uma flor, que se desenvolver espontaneamente numa mente liberta de emoções e desejos. O princípio do Gung Fu não é algo que, à maneira de uma ciência, pode ser apreendido mediante recolha e instrução em factos já consumados. É uma arte subtil que trata de combinar a essência da mente com o aparato técnico sobre o qual opera. O Gung Fu é uma espécie de aptidão muito especial uma primorosa arte jamais confinada a uma actividade física. A Study in the Way of Chinese Martial Art (editado por John Little, Tuttle Publishing, 1997, pp. Segue, em versão portuguesa, o escrito originalmente intitulado «A Moment of Understanding», inserto em Bruce Lee, The Tao of Gung Fu.
